Cultura do carro é um dos maiores problemas para a mobilidade urbana

Processo de urbanização no país priorizou o uso do automóvel
Andar pelas cidades e ver as ruas lotadas de carros parece algo totalmente normal, principalmente, nos grandes centros. Tão comum que é fácil acreditar que o excesso de veículos automotores nas vias foi resultado de um processo natural, sem outras interferências. No entanto, no caso do Brasil, assim como em outros países, uma série de fatores levou à supervalorização do carro como principal meio de transporte.
No contexto brasileiro, especialmente, a partir da década de 1950, o processo de urbanização foi associado ao aumento de veículos motorizados, com alto investimento na indústria automobilística. Nessa configuração, o desenvolvimento dos grandes centros foi sendo moldado pelo uso do carro, com a priorização do modelo rodoviário e a expansão das vias.
Um dos exemplos mais emblemáticos, apontado por estudiosos, é a construção de Brasília, projetada para a utilização, prioritária, de automóveis particulares. Com largas avenidas e bairros ligados por grandes vias rodoviárias, Brasília foi erguida sob a influência do ideal modernista de urbanismo, no qual as cidades foram planejadas em função do carro. Dessa forma, até hoje, o Distrito Federal é um dos locais que mais sofre com os problemas de mobilidade urbana causados pelo excesso de automóveis, consequências da chamada “cultura do carro”.
Caracterizada pela supervalorização do automóvel, não só em razão dos seus atributos funcionais, mas também, como símbolo de poder e status, a chamada “cultura do carro” é apontada por pesquisadores como um dos principais responsáveis pelos problemas do trânsito no país. Nessa concepção, mais do que um meio de transporte, o carro possui um significado simbólico que identifica o usuário como pertencente a uma posição social mais elevada. Ou seja, ser proprietário de um veículo demonstra um elevado padrão de vida, enquanto o transporte coletivo fica associado às classes menos favorecidas. Tal visão já se encontra em declínio em muitos países, que já enfrentaram problemas de mobilidade urbana, mas que hoje conseguiram superar essa dificuldade.
Nesse contexto, o processo de urbanização também se aliou à cultura do carro, com a criação de espaços associados ao seu uso, como: centros de compras com amplos estacionamentos, restaurantes com drive thru, grandes redes de postos de gasolina e uma diversidade de interações. Além disso, outros fatores, como reduções fiscais e facilidades de crédito para a compra, contribuíram para estimular a ideia do carro como principal meio de transporte, nas cidades brasileiras, levando ao excesso de veículos nas ruas e os conhecidos problemas de mobilidade urbana.
Agência Marcão Kareca | Assessoria de Imprensa
Por Gisleine Durigan
Foto: frotacia.com.br